quinta-feira, 16 de julho de 2009

"STATUS É COMPRAR ALGO QUE VOCÊ NÃO PRECISA, GASTANDO O DINHEIRO QUE VOCÊ NÃO TEM PARA MOSTRAR PRA UMA PESSOA QUE VOCÊ NÃO GOSTA AQUILO QUE VOCÊ NÃO É"

DESCONHECIDO

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Alberto Caeiro



DA MINHA ALDEIA vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.




Alberto Caeiro, em "O Guardador
de Rebanhos".

sexta-feira, 10 de julho de 2009

GRAVITY





















Gravity is working against me
And gravity wants to bring me down
Oh, I'll never know what makes this man
With all the love that his heart can stand
Dream of ways to throw it all away

Oh, gravity is working against me
And gravity wants to bring me down
Oh, twice as much ain't twice as good
And can't sustain like a one half could
It's wanting more that's gonna send me to my knees

Oh, gravity stay the hell away from me
Oh, gravity has taken better men than me
How can that be?

Just keep me where the light is
C'mon keep me where the light is
C'mon keep me where, keep me where the light is


JOHN MAYER - www.johnmayer.com

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O Homem NU...




FERNANDO SABINO


Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

— Maria, por favor! Sou eu!

Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.

Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!

— Isso é que não — repetiu, furioso.

Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.

— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.

Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu...

A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

— Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

— Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

— É um tarado!

— Olha, que horror!

— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão.



Esta é uma das crônicas mais famosas do grande escritor mineiro Fernando Sabino. Extraída do livro de mesmo nome, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 65.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Eu ficaria de fora...





Por considerar os vestibulares um dos grandes inimigos do ensino e da educação, recebo com alegria a informação de que o governo se prepara para erradicar esta prática nociva.

As notícias indicam que se pretende adotar no Brasil um mecanismo semelhante àquele adotado nos Estados Unidos, onde o ingresso às universidades é regulado pelo histórico escolar dos alunos. Vai-se a minha alegria inicial. Sinto calafrios de terror. Pois é minha convicção que a solução norte-americana seria muito pior que os vestibulares atuais. Seria o caso da cura sendo mais mortífera que a doença.

A adoção de tal solução traria um benefício imediato: o fim dos cursinhos. Mas esse lucro não compensa os efeitos colaterais do remédio.

Em primeiro lugar seria mantido o “efeito guilhotina” dos vestibulares atuais. Chamo de “efeito guilhotina” o clima de terror psicológico que, por efeito dos vestibulares, contagia a vida escolar dos jovens, ficando cada vez mais forte na medida em que os vestibulares se aproximam. Com a solução norte-americana o “efeito guilhotina” seria simplesmente distribuído ao longo de toda a vida escolar. A cada momento o aluno saberia que há uma espada sobre a sua cabeça. As tensões, ligadas às pressões pelo desempenho escolar, no Japão, têm produzido um assustador número de suicídios de adolescentes e até mesmo de crianças. De um ponto de vista psicológico, uma intensa ansiedade, concentrada, como no caso dos vestibulares, é preferível a uma ansiedade constante, como na solução norte-americana. O que penso dos jovens e da educação não me permite aceitar que a escola seja uma experiência de dor.

Em segundo lugar, a aplicação simples desse mecanismo em nada alteraria os padrões de educação que os vestibulares sedimentaram. O ruim continuará a ser ruim. É altamente provável que as escolas, moldadas pelos anos de submissão aos padrões de vestibulares, tendam simplesmente a perpetuar os mesmos padrões, de forma cada vez mais refinada.

Em terceiro lugar, é preciso notar que esse mecanismo, nos Estados Unidos, é altamente elitizante. Formou-se um conjunto de escolas de elite (vejam-se os filmes Sociedade dos poetas mortos e Perfume de mulher), caminho obrigatório para aqueles que pretendem cursar as universidades mais famosas. Evidentemente os colégios de elite custam uma fortuna, e os norte-americanos de classe média começam a poupar dinheiro desde que os filhos nascem para fazer face às despesas impossíveis com a educação universitária.

A mesma coisa aconteceria no Brasil. Um histórico escolar, vindo de um colégio de elite, teria necessariamente maior credibilidade, quando comparado a um histórico igual, emitido por um colégio sem nome, do interior. Não é fácil mas não é impossível que uma família pobre, fazendo um esforço gigantesco por um ano, crie as condições para que um filho seu faça o cursinho e passe no vestibular. Mas a mesma família não poderia fazer o mesmo sacrifício através dos muitos anos que o estudo em colégios de elite exige. O sistema americano é mais elitizante que o atual sistema de vestibulares.

Finalmente, num sistema acostumado à corrupção, como impedir o surgimento da “corrupção dos históricos escolares”? Sei de professores que tiveram de alterar notas de alunos para atender a pressões vindas de cima. Quanto a isso, os atuais vestibulares são melhores. Mesmo com suas deficiências e deformações, eles não se prestam a esse tipo de corrupção.

E há uma razão pessoal: se esse sistema tivesse sido implantado no Brasil eu teria sido uma pessoa com dificuldades para ingressar numa universidade. Meu histórico escolar de ginásio e científico é medíocre. Na minha adolescência os meus interesses caminhavam numa direção oposta à dos currículos escolares. E, para dizer a verdade, com pouquíssimas exceções, meus professores não mereciam que neles se prestasse atenção.

Desejo o fim dessa prática burra e injusta. Mas a solução norte-americana é pior que a doença. Deve haver um remédio que cure sem matar.




Rubem Alves - http://www.rubemalves.com.br/